Casamento é
para perdedores!
Muitos pastores não gostam muito de
aconselhamento matrimonial. É complicado, bagunçado e normalmente se perde o
controle rapidamente. No pior dos casos, o conselheiro tem visão privilegiada
para uma briga agendada semanalmente. Mas eu adoro esse tipo de aconselhamento.
Por que? Talvez eu goste desse trabalho porque mantenho um simples princípio em
mente: para um casamento funcionar, ele precisa ser uma disputa para ver qual
cônjuge vai perder mais, precisa ser uma corrida para quem chega ao fundo
primeiro. Quando se trata de ganhar e perder, eu entendo que há três tipos de
casamento.
No primeiro tipo, os cônjuges estão brigando para vencer, e
esse costuma ser um duelo até a morte. Maridos e esposas se armam com um
arsenal que varia de punhos a palavras e silêncio. Esses são casamentos
destrutivos. Cônjuges se destroem e, no processo, destroem seus filhos também.
Esse tipo de casamento é responsável pela maior parte dos 50% dos casamentos
que fracassam.
O segundo tipo de casamento também é marcado por vitórias e
derrotas, mas os papéis são definidos, e o perdedor é sempre o mesmo cônjuge.
Esses são os casamentos realmente abusivos, aqueles em que um cônjuge domina, o
outro se submete e, no processo, ambos são vão perdendo sua dignidade. Esses
são os casamentos dos viciados e dos facilitadores, dos tiranos e dos escravos,
e talvez seja o tipo mais infeliz de todos.
Mas há um terceiro tipo de casamento. Esse tipo não é perfeito, nem de
longe. Mas uma decisão é tomada, duas pessoas decidem se amar até o limite, e
se sacrificarem pela coisa mais importante: o outro. Nesses casamentos, perder
se torna o estilo de vida, uma competição para ver quem ouve, cuida, serve,
perdoa e aceita mais o outro. O casamento se torna uma competição para ver quem
muda mais, de forma que busque cuidar do outro cada vez melhor, para ver quem
abre mais mão de si mesmo para elevar a dignidade e as forças do outro. Esses
casamentos formam pessoas pequenas, humildes, misericordiosas e pacíficas. E
eles são revolucionários, no sentido mais literal da palavra.
Vivemos em uma cultura em que o inimigo
é a derrota. Nós acordamos ouvindo notícias sobre brigas familiares com
resultados ruins. Muito ruins. Vamos para o trabalho, onde todo mundo está
lutando entre si para agradar o chefe e receber a próxima promoção, ou ficamos
em casa, onde a batalha pelas peças de brinquedo é tão acirrada quanto. Nós
lutamos para ter as melhores coisas, as melhores marcas, e quando olhamos um
para o outro no fim do dia, nós brigamos, simplesmente porque fomos treinados
para isso. E, normalmente, fomos muito bem treinados. Nos piores casos, nós
crescemos lutando por nossa sobrevivência, física ou emocional. Mas mesmo nas
melhores situações, nos vemos tentando ganhar a batalha pela atenção e
aprovação dos nossos pais, a aceitação dos nossos semelhantes e a marca de
aprovação do mundo de uma mensagem só: vença. Assim, cultivar um casamento em
que perder é a regra comum aos dois se torna um ato radicalmente contra
cultural. Sentar para mais uma sessão de aconselhamento matrimonial, para mim,
é fomentar essa rebelião.
Como são, então, esses casamentos
rebeldes? Ultimamente, quando meu sangue ferve, quando sei que fui mal
compreendido e negligenciado, e estou pronto para fazer qualquer coisa para
convencer e mostrar o que eu mereço, tento me lembrar de um telefonema que
recebi recentemente, da professora de segunda série do meu filho. Ela me ligou
um dia, após a aula, para me contar que houve um incidente na aula de educação
física. Após uma acirrada disputa atlética, na qual o prêmio era o privilégio
de ir embora mais cedo, o time do meu filho perdeu. Os perdedores estavam lá
sentados, reclamando e murmurando sobre versões infantis de injustiça, quando
os vencedores passaram. Foi aí que o meu filho começou a aplaudir. Ele aplaudiu
os meninos vencedores, conforme iam passando por ele, com um olhar de bobo e um
sorriso de uma orelha até a outra. Sua professora, surpresa, rapidamente levou
os outros do seu time a acompanharem. Assim, um bando de perdedores da segunda
série realizaram uma rebelião, dando uma salva de palmas para seus semelhantes
vitoriosos, abraçando o que significa ser um perdedor ao fazê-lo. Quando estou
amargurado, tento pensar no coração do meu garoto, um coração que perde, mas
não deixa de sentir afeição por quem ganha.
No casamento, perder é deixar de tentar
consertar tudo no seu parceiro, ouvir sobre suas dores com um coração que sofre
junto, não que busca uma solução. É ser mais presente nos momentos difíceis do
que nos bons momentos. É descobrir formas de ser humilde e aberto, mesmo quando
todo seu ser te diz que você está certo e ela está errada. É fazer o que é
certo e bom pelo seu cônjuge, mesmo quando as grandes coisas da vida precisam
ser sacrificadas, como o trabalho, um relacionamento ou um ego. É perdoar,
pronta, rápida e voluntariamente. É eliminar da sua vida tudo que te impede de
cuidar, ajudar e servir, mesmo as coisas que você ama. É buscar a paz ao
aceitar os costumes saudáveis, mas irritantes, do seu parceiro porque, se você
se lembrar, foram essas coisas que te fizeram se apaixonar no começo. É saber
que o seu cônjuge nunca vai te entender completamente, nunca vai te amar
incondicionalmente – porque eles também são criaturas caídas como você – e,
mesmo assim, amá-los até o fim.
Talvez o casamento, quando vivido por
dois perdedores em um lar que cultiva a rendição mútua, seja um bom treinamento
para caminhar nesse mundo – um mundo que quer te mastigar e cuspir os ossos –
sem o medo constante de acabar se dando mal. Talvez precisemos ser moldados de
tal forma que vencer perca o glamour, para podermos nos sacrificar em favor dos
outros. Talvez o que realmente precisemos é nos tornarmos um bando de
perdedores em um mundo destruído pela competição. Se fizermos isso, talvez
possamos dormir um pouco mais fácil à noite, possamos olhar nos olhos dos
nossos amados, perdoar, relevar e aplaudir os vencedores.
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