DISPOSIÇÃO
Uma lição aprendida com
as igrejas ribeirinhas do rio Mari Mari
Se você fosse para uma comunidade no
meio da floresta amazônica, o que esperaria encontrar? Animais selvagens como
jacarés, cobras, onças e milhares de milhares de pernilongos e outros insetos.
Pessoas que vivem sem nenhuma tecnologia, vivendo da pesca, caça e agricultura.
Talvez uma igreja formada por líderes com pouco conhecimento bíblico e
teológico, que mal conseguem comunicar com clareza os princípios eternos da
Palavra.
Foi exatamente com essa expectativa
que fui participar do Núcleo Pregue a Palavra (curso de estudo e exposição
bíblica) com pastores e líderes de igrejas das comunidades ribeirinhas do rio
Mari Mari.
Para minha surpresa, em três dias
não vi nenhum animal que eles mostram na televisão. Vi apenas um porquinho
selvagem, que era o bichinho de estimação de uma garotinha, e vi de longe, com
uma lanterna, o reflexo de um par de olhos de jacaré, próximo da comunidade
onde estávamos. Eles também têm menos mosquitos que nossa cidade!
As comunidades ribeirinhas já estão
recebendo luz elétrica. As mais distantes possuem um gerador. As escolas e
postos médicos são compostos por profissionais ribeirinhos, que estudaram nas
faculdades da capital e retornaram para trabalhar onde nasceram. Algumas também
têm sinal de internet.
No grupo que participou do Pregue a
Palavra, percebi um bom conhecimento bíblico e teológico. Eles comunicam com
clareza a mensagem bíblica e são fiéis às Escrituras. Superam em muito alguns pastores
de grandes centros urbanos.
Isso
me fez pensar: como eles chegaram nesse nível, mesmo vivendo em um lugar de
difícil acesso e com pouco ou nenhum acesso à informação (seminários, livros e
internet)?
Primeiro:
porque alguém foi até lá e investiu na vida dos ribeirinhos. Não só pregando o
evangelho, mas também discipulando os convertidos e investindo pesado na
formação de líderes para igreja local. Desses, conheci a missão Seara e
Seminário Flutuante, ministérios da Palavra da Vida Norte ( http://www.pvnorte.com.br/seara/ ).
Segundo:
apesar da dificuldade de acesso ao estudo, existe disposição dos cristãos
ribeirinhos em crescer no conhecimento bíblico. Essa disposição os fazem
ultrapassar as barreiras da inacessibilidade para chegar à maturidade cristã.
Essa
realidade me fez refletir em nossa igreja, também em duas áreas:
Primeiro:
vale a pena investir em ministérios como esses da Palavra da Vida Norte, pois
os resultados são fantásticos. As igrejas dos ribeirinhos estão muito bem
servidas com pastores muito bem formados e capacitados para transmitirem com
fidelidade a Palavra. Temos sim que investir na evangelização. Mas é também
extremamente importante investir na formação de líderes que vão discipular os
alcançados. Se não, serão crentes superficiais e imaturos.
Segundo:
como cristãos vivendo em uma região onde temos fácil acesso ao conhecimento
(cursos, livros, internet e discipuladores), como temos nos empenhado em
crescer no estudo da Bíblia?
“Ah, mas os ribeirinhos não tem a correria
da cidade, eles têm muito tempo!”- alguém poderia dizer. Mas não
percebem que eles precisam produzir sua própria comida, seja pescando, caçando
ou trabalhando na roça; e mesmo assim precisam ir ao supermercado de tempos em
tempos (e cada vez que vão, perdem um ou dois dias de viagem de barco), fazer
visitas, cuidar de toda estrutura da igreja, inclusive a construção; e ainda, o
dia para eles termina no por do sol, apesar da luz elétrica.
O que eles têm que nós não temos?
Disposição. A tecnologia nos tornou preguiçosos. Por isso, nos contentamos com
o ensino que recebemos aos fins de semana na igreja, mas quase nunca lemos um
livro ou estudamos um assunto bíblico.
Essa experiência me fez refletir
sobre isso. Não são as dificuldades de acesso que me impedem de conhecer mais a
Deus e Sua Palavra, mas sim minha indisposição. Que Ele nos incomode com o exemplo
dos nossos irmãos ribeirinhos do rio Mari Mari.
Guardei no coração a tua palavra para não pecar
contra ti.
Bendito sejas, Senhor! Ensina-me os teus decretos.
Com os lábios repito todas as leis que
promulgaste.
Regozijo-me em seguir os teus testemunhos como o
que se regozija com grandes riquezas.
Meditarei nos teus preceitos e darei atenção às
tuas veredas.
Tenho prazer nos teus decretos; não me esqueço da
tua palavra.
Trata com bondade o teu servo para que eu viva e
obedeça à tua palavra.
Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas
da tua lei.
Sou peregrino na terra; não escondas de mim os
teus mandamentos.
A minha alma
consome-se de perene desejo das tuas ordenanças.
(Salmos 119:11-20)
Pr. Ricardo