Exatamente dois anos atrás, um grupo
de adolescentes da PIBA (Atibaia) veio passar uma semana em nossa igreja.
Dentre as atividades, eles passaram uma tarde no asilo visitando os idosos,
limpando e pintando a entrada da casa. Nesse dia eles me apresentaram o “seu”
Aparecido. Um senhor de cinquenta e poucos anos, de história sofrida, cego por
conta da diabetes, mas crente em Cristo Jesus. Cresceu na roça, perdeu os pais,
foi abandonado pela família por causa da fé, chegou a morar na rua, onde foi
encontrado desmaiado, e por isso passou a viver no asilo.
A
partir de então, comecei a visitá-lo toda semana. Líamos a Bíblia, orávamos e
conversávamos sobre Deus. Nos últimos meses a saúde dele piorou. Não andava
mais. O violão, que com muita habilidade tocava hinos, deixou de ser usado.
Duas semanas atrás, no auge da sua solidão, me pediu para visitá-lo duas vezes
por semana, para ter mais dessas conversas edificantes, e não se sentir tão
sozinho.
No
domingo passado, “seu” Aparecido morreu, de forma serena, deitado na cama, às
15h30. Não acharam meu telefone para me avisar. Ninguém apareceu no seu
velório. Foi sepultado apenas na companhia dos coveiros e da freira responsável
pelo asilo.
Hoje
“seu” Aparecido está curado. Consegue enxergar Aquele que morreu por ele. Não
vive mais sozinho, mas está na presença de milhares de anjos e daqueles que
morreram em Cristo. Voltou a tocar seu violão, agora com perfeição, louvando na
presença dAquele a quem ele louva.
Mas confesso que chorei. Chorei
pensando em quanto poderia ter feito mais por ele. Talvez não tenha me
empenhado o suficiente para tornar seus últimos dias melhores. Chorei por que
como igreja, poderíamos tê-lo tratado como membro de nossa família. Quantos
viram os apelos nos boletins: considere
em visitá-lo, mas ignoraram, focados em seus próprios afazeres. Alguns
oraram, mas não agiram.
Se um irmão ou irmã estiver
necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser:
"Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se", sem porém lhe
dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada
de obras, está morta. (Tiago 2:15-17)
Muitos
colaboram com doações para o asilo, para clínica e para famílias necessitadas.
Mas são poucos que doam seu tempo, sua atenção e seu carinho. É mais fácil
“terceirizar” a obra. Mas Jesus não enviou um anjo. Ele veio pessoalmente nos
resgatar.
A
partida do “seu” Aparecido me fez refletir. Não temos amado as pessoas como
aprendemos no evangelho. Jesus não amou apenas de palavra, mas sacrificou-Se
por nós! Se queremos amar como Ele nos ama, precisamos nos sacrificar por
outros! Não para merecermos Seu amor, mas porque já somos amados sem
merecermos.
Ainda
existem muitos “Aparecidos” e “Aparecidas” no asilo, no lar de meninos e
meninas, no hospital, nas clínicas para dependentes químicos, nas
Cristolândias, nas ruas, enfim, em nossa cidade. Como vamos tratá-los? Vamos
continuar fingindo não ser nossa responsabilidade amá-los?
Separe um horário da sua semana para
conversar com algum velhinho do asilo. Apenas conversar. Vá brincar com as
crianças do lar de meninos e meninas. Faça uma visita à Cristolândia, e conheça
a história de quem está lá. Trate com simpatia e carinho aqueles que batem na
sua porta pedindo ajuda. Sorria para o pedinte na rua. Ofereça ajuda. Assim
seremos capazes de conhecer e experimentar o amor de Deus por nós.
Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do
mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me
deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e
vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e
vocês me visitaram’. "Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te
vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te
vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando
te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar? ’
"O Rei responderá: ‘Digo-lhes a
verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’.
(Mateus 25:32-40)
Pr. Ricardo
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